domingo, 30 de outubro de 2011

Um pouco mais sobre "Os Lusíadas"

Nesse grande poema épico escrito por Camões, os feitos dos navegadores portugueses em direção às Índias são igualados às façanhas de heróis da Antiguidade greco-latina.

 
Os Lusíadas, grande poema épico de Luís de Camões, foi publicado em 1572, durante o Renascimento em Portugal. Nesse período, os autores buscavam sua inspiração na cultura da Antiguidade greco-latina. Eneida, de Virgílio, que narra a fundação de Roma e outros feitos heróicos de Enéias, e a Odisséia, de Homero, que conta as aventuras do astucioso Ulisses, foram certamente as maiores influências de Camões.

Em dez cantos, subdivididos em estrofes de oito versos, Os Lusíadas trata das viagens dos portugueses por “mares nunca dantes navegados”. Uma das características da épica é a narração de episódios históricos ou lendários de heróis que possuem qualidade superior.

EM CÂMERA LENTA
As proporções dessa obra e a linguagem arcaica podem, de início, afastar o leitor de hoje. As principais dificuldades encontradas na leitura são os termos antigos utilizados, a sintaxe truncada e o grande número de informações mitológicas e históricas. Mas é possível compreender os principais elementos, porque o poema épico tem como finalidade narrar a própria história, ou feitos heróicos que estão no terreno da mitologia. As descrições são minuciosas, abrangendo todos os detalhes da paisagem, as cenas de batalha e as vestes dos guerreiros.

A épica, como gênero, diferencia- se da tragédia. Na tragédia – como na de Édipo –, o personagem principal envolve-se em uma trama que acabará por aniquilá-lo. O espectador assiste, aflito, ao trágico encontro do protagonista com seu destino inevitável e cruel: Édipo fura os próprios olhos, perambulando sem destino. No gênero épico, o “elemento de tensão” desaparece e surge em seu lugar o “elemento retardador”. Os personagens épicos não têm um desenvolvimento psicológico elaborado. Eles seguem suas características básicas, que não mudam no decorrer da história. A épica deve ser lida, portanto, de maneira tranqüila e minuciosa, como uma aventura que se passa em câmera lenta.

ENREDO Como era comum na literatura épica, a narração de Os Lusíadas começa in media res – ou seja, em plena ação – no caminho, quando os portugueses já deixaram sua terra natal e se encontram ancorados em Melinde, cidade situada no oceano Índico.

Enquanto isso, os deuses fazem uma primeira reunião para decidir o destino dos navegantes. Baco se opõe ao feito, que diminuirá sua glória como senhor do Oriente.

No entanto, Vênus, deusa do amor, e Marte, deus da guerra, colocam-se a favor dos portugueses. Júpiter concorda com os dois. Mercúrio, o mensageiro, é enviado para garantir que o povo selvagem de Melinde seja hospitaleiro com os portugueses.

O capitão do navio, Vasco da Gama, narra ao rei de Melinde a história de Portugal, em que se inserem as figuras de grandes heróis da história portuguesa e os episódios de Inês de Castro, do Velho do Restelo e do Gigante Adamastor.

A caravela continua sua viagem, atravessando o oceano Índico. Nessa parte da trajetória, um dos tripulantes, o marinheiro Veloso, narra a seus companheiros o episódio dos Doze de Inglaterra, espécie de novela de cavalaria em que 12 cavaleiros portugueses vão à Inglaterra para defender a honra de damas que haviam sido ofendidas por 12 cavaleiros ingleses. Após uma luta sangrenta, os heróis lusitanos vencem os ingleses, aos quais sobra a morte ou a vergonha da derrota.

Ao mesmo tempo, o deus dos oceanos, Netuno, recebe a visita de Baco, que o convence a aliar-se contra os portugueses, argumentando que depois daquela viagem os homens iriam perder o temor dos mares. Toda a força dos ventos invocados por Netuno atinge a embarcação de Vasco da Gama. Sob a proteção de Vênus e das Nereidas, as ninfas marinhas, os portugueses sobrevivem, mas seu navio sofre inúmeras avarias, chegando a Calecute, na Índia, graças a correntes marítimas invocadas em seu auxílio, uma vez que o mastro da embarcação estava partido.

Em Calecute, os portugueses são envolvidos em mais uma trama de Baco, que havia induzido o Samorim (líder local) a separar Vasco da Gama de seus companheiros e prendê-lo. O capitão consegue escapar mediante o pagamento de suborno, o que vale uma crítica do narrador à corrupção dos homens pelo dinheiro.

A última aventura dos argonautas portugueses é sua visita à Ilha dos Amores, já no retorno a Portugal. Vênus prepara maravilhosas surpresas para os visitantes.

Na ilha, estão ninfas que foram flechadas por cupido. Ao avistarem os navegantes, elas imediatamente ficam apaixonadas. Começa, então, uma verdadeira perseguição erótica, em que são exaltadas as qualidades do amante português. Depois de um banquete no qual todos ouvem previsões sobre o futuro de cada um, a deusa Vênus mostra a Vasco da Gama uma esfera, mágica e perfeita: a maravilhosa Máquina do Mundo.

Após a volta tranqüila dos aventureiros a Portugal, o poeta termina seu livro em tom de lamento. Queixa-se de que sua opinião não seja levada em conta pela “gente surda e endurecida” e oferece ao rei dom Sebastião uma solução para impedir a decadência do Império: uma grande empresa em direção ao Oriente, buscando a salvação de muitos infiéis e resgatando a glória do heróico povo português.



Espero que gostem,
Beijos, Thayná Rezende

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